A pergunta é provocadora: e com razão. As redes sociais estão cheias de promessas de dietas milagrosas ou de regimes alimentares que aliviam os sintomas da Síndrome de Intestino Irritável.
Seja pela via da restrição alimentar, da dieta baixa em FOODMAP ou pela eliminação a priori de lactose, glúten ou outro composto alimentar, muitos destes caminhos podem alimentar a ignorância sobre o funcionamento da SII.
Quero ser claro: não estou a dizer que o recurso à Nutrição não seja importante e valioso. Seria até irresponsável olharmos para áreas como a Gastroenterologia ou a Nutrição como pouco importantes no tratamento da SII.
A investigação científica dos últimos 20 anos já deixou evidente que não é possível olhar para a Síndrome de Intestino Irritável sem olhar para o efeito bidirecional que existe entre o nosso cérebro e o nosso intestino. Aliás, hoje em dia já começa a ser novamente comum revisitarmos a expressão de que o intestino é o nosso segundo cérebro.
Não é, por isso, surpresa percebermos que aquilo que comemos influencia fortemente a informação enviada pelo intestino ao cérebro. Se percebermos que a Síndrome de Intestino Irritável tem uma componente fortemente neuropsicológica, a relação torna-se ainda mais inevitável.
Mas onde fica o modo como o nosso cérebro interpreta e regula os sinais enviados pelo intestino? Onde fica o outro lado da bidirecionalidade? O cérebro!
A última década de ciência foi muito clara em identificar mecanismos psicológicos que promovem uma desestabilização da parte do sistema nervoso que controla o funcionamento intestinal, assim como em compreender especificidades do sistema nervoso entérico (o tal nosso “segundo cérebro” que engloba os intestinos).
Este é um campo muito próximo da Psicologia e, pela primeira vez em Portugal, começam a surgir os programas de Intervenção Psicológica na Síndrome de Intestino Irritável. Exatamente para apostar no ingrediente da intervenção que só agora se revelou como o mais forte e preponderante para o tratamento da SII.
