Intestino Irritável: diferentes nomes para a mesma condição.

A Síndrome de Intestino Irritável (SII) é uma condição crónica do trato gastrointestinal caracterizada por sintomas recorrentes de dor abdominal, alterações no trânsito intestinal e desconforto abdominal. A SII é uma das doenças gastrointestinais mais prevalentes e estima-se que afete cerca de 10 a 15% da população mundial.

Apesar da frequência com que pode surgir na população, a SII continua a ser fonte de muita confusão e incerteza, a começar na ausência de consenso sobre um termo único que corresponda à condição. Em termos práticos, as designações Síndrome de Intestino Irritável, Síndrome do Cólon Irritável, Colite Nervosa, Colite Espástica e Doença Funcional do Intestino correspondem todas à mesma condição clínica. A escolha do nome pode variar de acordo com a preferência do médico, da ênfase que se pretende colocar em determinado sintoma, ou ainda da região ou país onde se encontra a pessoa.

Acima de tudo, a SII é considerada uma doença funcional. Ou seja, é uma condição em que os sintomas são causados por alguma disfunção ao nível do trato gastrointestinal, mas sem a presença de alterações estruturais, inflamatórias ou neoplásicas. O que isto significa é que a SII é uma doença crónica, raramente apresentando riscos para a vida da pessoa ou raramente levando a complicações graves. Como é óbvio, isto não quer dizer que não seja uma doença altamente impactante, que acarreta muito sofrimento e desconforto na vida de quem a apresenta.

 

Mas olhemos para os diferentes termos:

O termo Síndrome do Cólon Irritável (SCI) é amplamente utilizado nos Estados Unidos e no Reino Unido, enquanto o termo Síndrome de Intestino Irritável é mais comum em Portugal e no Brasil. A diferença entre os dois termos reside na designação da parte do trato gastrointestinal percecionada como afetada: cólon versus intestino. No entanto, ambas as denominações são usadas para descrever a mesma condição, caracterizada por sintomas gastrointestinais crónicos.

É também comum surgir-nos o termo de Colite Nervosa a propósito de alterações no trato gastrointestinal. Na verdade, esta designação aparece frequentemente para descrever uma inflamação do cólon. No entanto, a SII não está associada a uma inflamação real do cólon ou qualquer outra parte do trato gastrointestinal. O termo “Nervosa” assume aqui muita importância porque pretende destacar a característica “funcional” da doença e a sua íntima conexão ao sistema nervoso.

De forma semelhante, o termo Colite Espástica pode sugerir alguma condição inflamatória, mas deriva, na verdade, do facto da SII ser caracterizada frequentemente por um aumento da atividade muscular do trato gastrointestinal, resultando em contrações mais intensas e prolongadas – o que pode levar a dor abdominal e diarreia.

Já Doença Funcional do Intestino é um dos termos mais interessantes para identificar a SII, uma vez que descreve uma condição na qual o intestino não funciona corretamente, mas em que também não há uma causa óbvia para essa disfunção. Aliás, no sistema de classificação Roma IV (uma organização de critérios e parâmetros aplicáveis às doenças de foro funcional do sistema gastrointestinal), surge-nos claramente a SII como doença funcional.

Dar ênfase a aspetos diferentes da condição não quer dizer que estejamos a falar de doenças dierentes:

Os termos que referem esta condição têm em comum a referência a sintomas de irritação no intestino, como a dor abdominal, distensão abdominal, a atividade muscular do intestino, etc. No entanto, cada termo pode ter ênfase em aspetos ligeiramente diferentes.

Por exemplo, o termo “Síndrome de Cólon Irritável” (SCI) tem como ênfase a localização da dor e do desconforto abdominal, enquanto a “Colite Nervosa” refere-se à possível implicação do stress emocional na sintomatologia da SII.

A “Colite Espástica” pode enfatizar o papel dos movimentos espasmódicos do intestino na sintomatologia, enquanto o termo “Doença Funcional do Intestino” é mais abrangente, pois pode incluir outras condições funcionais do trato gastrointestinal, como a dispepsia funcional ou a constipação funcional.

Apesar das diferenças na nomenclatura, é importante salientar que todas estas condições se referem à mesma síndrome e partilham muitos dos mesmos sintomas, padrões de ocorrência, desencadeantes e tratamentos. Esta diversidade de termos pode ser explicada por diferenças culturais, tradições médicas, evolução histórica ou até, imagine só, por razões de marketing.